domingo, 8 de junho de 2014

A DESPESA SOCIAL E AS RESPOSTAS DO GOVERNO

"Despesa social do Estado é hoje maior do que era antes da troika", diz Passos Coelho. Virado para o desenvolvimento social, o primeiro-ministro garantiu ainda que “mesmo num momento de gravíssima evidência financeira mobilizamos recursos como nunca antes”. Para o líder do Estado, durante o período de crise, “cresceram necessidades e carências sociais, mas se as necessidades aumentaram, os recursos para fazer face também aumentaram apesar da escassez financeira”.
http://www.noticiasaominuto.com/economia/231141/despesa-social-do-estado-e-hoje-maior-do-que-era-antes-da-troika

Parece que o Senhor Primeiro Ministro se sente feliz e de parabéns, perante estes resultados governativos: mais recursos para mais despesas.
Mas quais recursos?
Descobriu-se a pólvora, ouro às carradas, ou, finalmente, o sonho de Joe Berardo, enquanto principal acionista da Mohave Oil & Gas, acabou por se concretizar com a descoberta do petróleo no subsolo de Aljubarrota? Ou espera-se, porventura, que o FMI nos empreste mais uns “cobres” a juros zero, perante um “mini-memorando”, mais um, última receita fundamental à definitiva reabilitação económica do país e ao reforço dos recursos do Estado, supomos nós, de algum modo, capazes de gerarem mais receita pública, agora que as exportações têm vindo a abrandar e a dinâmica do consumo interno da população residente é insignificante?!
“Entre janeiro e março, a economia caiu 0,7% face ao período de outubro a dezembro de 2013, quando as expectativas apontavam para um crescimento de 0,4% de PIB.”
http: // silviadeoliveira.wordpress.com
Estará Passos Coelho convencido de que algum milagre mega-recursivo virá salvar a economia nacional e endireitar a balança financeira do país,  tão enferrujada e desgastada, ainda por cima, afirma ele, confrontada com tamanho aumento de “necessidades e carências sociais”?
Agora com a Troika fora da jogada, se não for o FMI a dar-lhe a mão, Passos Coelho é capaz de não vir a ter tanta sorte, assim, de não poder contar com mais fontes de recursos, sobretudo, aquelas de que, “como nunca antes”, pôde dispor, ou seja, com as reformas e pensões dos aposentados, de onde sugou centenas de milhões de euros. E isto, porque esta franja social, sujeita a uma tremenda punição de “aleitamento forçado” a que o Estado, mamão, a obrigou, se já não era fonte mamogénica recomendada, face a uma senilização patente a todos os níveis da sua fisiologia existencial, virou um úbere seco e não disponível. Esta, sim, enquanto durou, foi a grande descoberta do Governo chefiado por Passos Coelho. Mas, não duvidamos de que o P.M., arguto como é, saberia bem onde poderia obter outros bons recursos e bem mais gordos para resolver a escassez financeira do país … só não tem nem teve coragem para o fazer. Visivelmente, é-lhe mais fácil não confrontar poderes instalados e alvejar sempre os mesmos: 3 a 4 milhões de portugueses. Estes, porém, visivelmente, embora lhe tenham servido de boas “almofadas” para suportar a crise, nesta altura, constituem um lençol freático nas lonas. E os que poderiam vir a servir-lhe de fonte de receita, equilibrando os gastos com a Despesa Social, são cada dia em menor número.
Com milhares largos de jovens que zarparam daqui ou, na opinião de muitos analistas, seguindo religiosamente os “inteligentes” conselhos dos nossos governantes, incluindo o Primeiro Ministro, foram “pregar para outras freguesias”, emigrando em massa e, claro, contribuindo, deste modo, para a força de trabalho e para o reforço da Segurança Social de outros países, a que se somam outros tantos milhares largos de portugueses, em idades válidas, caídos no desemprego, os quais, naturalmente, não têm expectativas nenhumas de poderem vir a trabalhar, dando o seu contributo a este setor economicamente fragilizado (Segurança Social), e tendo ainda em conta que muitos destes desempregados, caídos no marasmo, na depressão e nos vícios, afogados em psicofármacos e em álcool, como forma de alienação e de amnésia, vão pesando, e bem, invariavelmente, na mesma Segurança Social, através de uma considerável elevação de despesas com os recursos da Saúde, face às maleitas físicas e psicológicas que acabam por contrair neste ambiente caótico de crise, de austeridade de tristeza, de frustração, de desânimo e de total falta de autoestima, por tudo isto e perante tantas razões, ainda há quem pareça demonstrar alguma perplexidade, quando vê aumentar a despesa com a Segurança Social…embora se sinta feliz porque o Estado dispõe de mais recursos financeiros para fazer face a tanto descalabro social. Este otimismo, se não fosse trágica a situação vivida e sentida por milhões de portugueses, dia a dia, patente numa retração de consumo interno indesmentível a todos os níveis, a qual, permanentemente, se tenta esconder dos mercados e dos credores, dourando a pílula com demagogias tributárias de “sobe e logo desce”, como se eles fossem burros ou distraídos em relação ao que se passa, levar-nos-ia a sorrir. Assim, ainda que nos custe, resta-nos rir.
Será que Passos Coelho acredita que vai continuar a poder responder ao crescendo das despesas sociais, apenas com as fontes de que dispõe, taxas e impostos, ou estará preparado para bater a outras portas e abrir novos horizontes, em termos de receita pública?

João Frada

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