domingo, 6 de abril de 2014

Fase pior já passou, país não pode deitar tudo a perder – Paulo Rangel

“É agora que vamos desperdiçar os sacrifícios? Então nós estivemos três anos aqui com rigor, com austeridade, com sacrifício a tentar pôr as coisas outra vez de pé e agora que elas estão a ficar de pé é que vamos dar um pontapé e deitar tudo a perder?”.
Numa intervenção em que explicou as razões que levaram ao pedido de assistência internacional, o candidato reconheceu que o programa, “duro e severo”, trouxe aumento de desemprego, emigração, cortes nos salários e nas pensões.
“Mas também se foram fazendo reformas”, declarou, acrescentando que as exportações começaram a aumentar, o país começou a crescer “pouco, mas até aqui estava em recessão”, passou a ter excedente comercial, o “desemprego está a cair todos os meses” e as taxas de juros estão a baixar.
Pedindo à assistência que, se estiver preocupada com o futuro, para ter a coragem de não repetir o passado, Paulo Rangel teceu, de novo, críticas à lista socialista ao Parlamento Europeu, considerando que junta candidatos ligados ao “pecado original” - o Governo de António Guterres - onde começou “o descalabro orçamental” e o “pecado capital” - Governo de José Sócrates.


Comentário
Paulo Rangel tem toda a razão quando aponta os pecados originais e capitais ao Governo de Sócrates, bem como a todos os que, fiéis e dóceis seguidores deste grande iluminado e descobridor de oásis num país onde só parecia ao ministro Mário Lino haver desertos e camelos… e diga-se, em boa verdade, não nos atrevemos a contrariar esta opinião tão infeliz deste e de outros cameleiros, porque é assim que os políticos, aqueles e os de agora, sempre nos viram e ainda veem, simples “animais de carga”, capazes de aguentar tudo o que nos põem em cima. E lá dizia Fernando Ulrich: “Ai aguenta, aguenta”! 
Alguém duvida?
Quanto ao programa “duro e severo” de que Paulo Rangel nos fala, a nossa análise é outra, ligeiramente diferente. 
Trouxe “aumento de desemprego, emigração, cortes nos salários e nas pensões”. Concordamos, em absoluto. 
Mas para quem? Para a população em geral ou para os que estão direta ou indiretamente ligados ao Governo de Passos Coelho, ministros, secretários de Estado, assessores ou imberbes adjuntos especialistas acabados de sair das universidades? Ou então para um séquito imenso de gente que, na qualidade de presidentes, gestores, administradores, diretores, conselheiros, consultores, vive à conta do Orçamento tão desfalcado, recebendo vencimentos brutais, subvenções e mordomias sem fim pagos a peso de ouro?  
Quem são ou foram os atingidos pelo tal programa “duro e severo”, pelo desemprego, pelo espetro da emigração, pelo absurdo corte de salários e pensões? 
A tal reforma estruturante e estrutural do Estado, “cortando por cima”, de que tantos têm falado, incluindo Paulo Rangel, não se fez ainda e cremos que tardará a ser levada por diante. Enquanto se puder reformar por baixo, indo ao bolso dos que menos têm, é por aí que segue e corta a espada afiada da Reforma. 
As “exportações começaram a aumentar, o país começou a crescer “pouco, mas até aqui estava em recessão”, passou a ter excedente comercial, o “desemprego está a cair todos os meses” e as taxas de juros estão a baixar, afirma Paulo Rangel.
É incontestável que as exportações começaram a crescer, mas é melhor ter em conta que o milagre económico de que Pires de Lima falava e logo, logo, se arrependeu, corrigindo o otimismo, não se conseguirá apenas com tal setor. 
Há que cortar radicalmente com os gastos brutais da administração estatal, há que acabar com os vencimentos e privilégios excessivos concedidos aos altos cargos da Governação, da Política e da Banca, sobretudo a que movimenta capitais públicos, e então, sim, canalizando estas verbas para áreas e projetos potencialmente produtivos, aliviando, ao mesmo tempo, o esforço dos mais pobres e harmonizando a sociedade, através de medidas mais justas e equitativas, veríamos um país melhor. Esta deveria ser a prioridade das prioridades: pôr cobro a tantos e tão desmesurados gastos, poupando. Paulo Rangel não fala disto. Aliás, ninguém fala. Nem o Primeiro –Ministro, nem nenhum ministro. Acham que as suas funções insubstituíveis merecem escalões de vencimentos e privilégios especiais, contrariamente aos concedidos a outras classes diferenciadas da administração pública, mas não ligadas nem à Governação nem à Política. 
Paulo Rangel fala apenas do que lhe interessa e aponta o aumento de desemprego, como resultante dramática do dito programa de três anos, “duro e severo”, a que o país foi e continua sujeito. Entretanto, na sua ótica, o dito programa trouxe desemprego, citando as suas palavras, mas, a partir de agora, “o desemprego está a cair todos os meses”. 
O Programa do Governo PSD-CDS, marcado pela austeridade, a que Paulo Rangel se refere, foi apresentado no Parlamento e dado a conhecer ao país em 30 de junho de 2011.

Este programa contará já com três anos, é verdade, em 30 de junho próximo. Mas é para continuar e não menos duro, como o próprio PM fez questão de afirmar. Os sacrifícios são para manter. 
Então quais foram os meses de menor desemprego, a tal situação, dentre outras, que se agravou com o referido programa “duro e severo”?
Desemprego por falta de vagas/ofertas e ocupação das existentes, desemprego jovem(20-40 anos) ou de gente mais madura (40-66 anos)? 
Enquanto não observarmos o acordar da economia interna, através de um maior poder de compra familiar, decorrente de uma real descida da taxa de desemprego, não determinada com base em estatísticas falaciosas estabelecidas a partir do menor número de inscrições nos Centros de Emprego, a que a grande maioria dos desempregados entre os 45 e 65 anos, sem muitas hipóteses de voltarem ao ativo, já não recorre, mas à custa de um significativo aumento de emprego oferecido quer aos mais jovens, evitando a emigração brutal a que se assiste, quer aos menos jovens (40-45 anos), muitos deles dotados de um saber e experiência profissional que nunca deveriam ser desperdiçados num país que, parafraseando Paulo Rangel, não pode nem deve “deitar tudo a perder”, nenhum programa, nenhum plano ou reforma poderão reabilitar a economia e a sociedade portuguesas. 
 Será mesmo que a Fase Pior Já Passou?

João Frada

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