terça-feira, 23 de junho de 2015

SUPERVISÃO BANCÁRIA: A QUEM DEVE SER ATRIBUÍDA?

Supervisão Bancária: a quem deve ser atribuída?

Uns defendem a continuidade de Carlos Costa, à frente do Banco de Portugal, como é o caso de Passos Coelho e do seu governo, que reiteram a sua confiança neste administrador, outros, praticamente toda a oposição, querem-no na rua e, perante a ineficácia comprovada de supervisão bancária do BES, acusam-no de incompetente e responsável pela tardia suspensão das actividades de gestão, alegadamente, danosa de Ricardo Salgado, ou irresponsável, depende da perspectiva, perante a alegada falcatrua financeira que, sob as suas barbas, ocorreu, acabando por arrastar o país para uma cratera, cuja profundidade ainda permanece difícil de calcular.
Entretanto, Carlos Costa, ele próprio, na sequência desta terrível distração, com desastrosas consequências para o país, grande parte das quais nunca serão apuradas nem, muito menos, hão de vir a público, face aos compromissos de altas castas, alegadamente, envolvidas neste imbróglio de milhares de milhões, resolveu avançar com uma proposta inédita em termos de supervisão bancária. Ora leiam:  

“O governador do Banco de Portugal, Carlos Costa defendeu hoje a criação de um Fundo Monetário Europeu, defendendo «a necessidade de converter o Mecanismo Europeu de Estabilidade (MEE) numa instituição mais forte», para criar um «órgão especializado em atacar os desequilíbrios de um Estado-membro», e combater os «desequilíbrios da União Europeia”.

(“Carlos Costa defende a criação de um Fundo Monetário Europeu” – [10.04.2015]
http://www.abola.pt/mundos/ver.aspx?id=542004)

Lendo esta proposta, apetece-nos comentar: os que deveriam ser responsáveis dentro de cada Estado-membro pelo controlo e vigilância dos malfadados desequilíbrios, enquanto altos funcionários de instituições com essas competências, auferindo “pipas de massa” nos lugares que detêm, pelos vistos, concluem que, embora até aqui, teoricamente, tenham assumido tais cargos, não querem continuar a ter qualquer preocupação com estes problemas tão aborrecidos e complicados e pretendem que se crie mais um organismo supranacional, o FME, para os cidadãos europeus sustentarem. Onerando, um pouco mais a despesa pública de todos os Estados da União Europeia, alivia-se o trabalho dos governadores dos bancos centrais, que continuam a não governar coisa nenhuma, como se tem visto, e ajuda-se a criar mais uma “quinta” para meia dúzia de experts cultivarem e encherem os bolsos de euros. Tal como aconteceu  com a Troika, que veio cá demonstrar as suas excelsas capacidades e virtudes, em troca de milhões, ensinando os nossos políticos a esmifrar, com todo o requinte e malvadez, quem trabalha “que nem besta”, para sustentar os inteligentes administradores e gestores disto e daquilo (incapazes de cumprirem o seu trabalho de vigilância, controlo, prevenção e punição dos “desequilíbrios”), não tarda, aí estará mais outra entidade supervisora para supervisionar aquilo que os nossos supervisores não supervisionam, nem sabem como supervisionar, não obstante serem bem pagos para tal.   
Como é óbvio, podemos concluir o seguinte: o senhor doutor Carlos Costa assume em Bruxelas, através desta proposta pessoal, airosa e diplomática, que as suas competências de supervisão não são, não foram, nem irão ser suficientes para prevenir um problema como o do BES, em tudo idêntico ao que ocorreu durante a administração do Banco de Portugal pelo senhor doutor Vitor Constâncio, também ele um irrepreensível vigilante do BPN, como é sabido, e principescamente remunerado, …com um vencimento alegadamente superior ao do Vice-Presidente do Banco Federal dos EUA.
O doutor Carlos Costa não se apercebeu, atempadamente, do desequilíbrio, da derrapagem em que o BES entrara, acreditamos nisso, senão teria atuado a tempo. Esta supervisão de bancos é missão muito ingrata que, na sua opinião, exige outros mecanismos de vigilância e prevenção, francamente mais ajustados a uma entidade como o MEE, do FME. Perguntamos, então, que competências têm tido os sucessivos governadores do Banco Portugal, neste domínio ou quais as que não se lhes devem exigir em relação ao mesmo setor: a banca? Problemas como este, o do BES, alegadamente, resultante da má gestão de Ricardo Salgado, são desequilíbrios altamente emergentes e prováveis em diversos países da zona Euro, sobretudo naqueles em que os índices de corrupção são mais elevados. Embora constitua mais um “burro a alimentar”, e a pão-de-ló, seguramente, o Fundo Monetário Europeu terá mesmo de ponderar na criação de um órgão constituído por experts bem qualificados, designados pela União Europeia, por forma a proceder-se à detecção e prevenção deste tipo de fraudes e “buracos” financeiros como os que têm ocorrido estes últimos anos, sucessivamente, em Portugal.
Agora, “quem perdeu, perdeu, quem achou é seu”. “Cavalo morto, cevada ao rabo”. Missões destas não são para um homem só, chame-se, ele, Costa ou Constâncio. A Europa que pense nisto.        

Calendas Semânticas, 2000
João Frada
Professor Universitário (Ph.D)


quinta-feira, 18 de junho de 2015

DIÁLOGO SOBRE FILOSOFIA BARATA

Diálogo sobre Filosofia Barata

- O que dizer sobre o que nada contém para dizer?! – pergunto… e tu respondes:
- Há sempre qualquer coisa para dizer, ainda que seja, apenas, que nada há para dizer.
Há sempre, então, um “quase nada”, mas não um “absolutamente nada”, para dizer.
- Filosofias! És fértil até em ideias que nada contêm de ideias. E sei que nada dizes, embora apregoando que dizes realmente muita coisa. É uma forma subtil de nada dizeres, a quem te esteja a ouvir.
- Tens razão. Falando, ainda que nada digas, agradas a quem te ouvir e o teu ouvinte, pelo menos, enquanto se ocupa a decifrar o que nada existe na informação vazia que emitiste, julga ter ouvido alguma coisa e ocupa a mente, convicto de que, se nada entende ou compreende, não é porque nada disseste, mas porque não soube escolher ou aplicar o método  hermenêutico e neuronial adequado à inteligibilidade do que ouviu.  
- Há muitos que nada dizem quando dizem alguma coisa e ainda que, uma ou outra vez, possam deixar escapar algo palpável e real quando se fazem ouvir, são capazes de se desdizer no momento seguinte, não sustentando nenhuma afirmação e reduzindo a zero tudo quanto acabaram de dizer.
- É o que mais se ouve, por aí. Quem diga e desdiga tudo quanto diz. Grandes mestres na arte de nada dizer, dizendo tudo sem dizer nada. E o mais grave disto tudo, é que muitos acreditam no que ouvem e julgam ter ouvido, tomando como realidade o que não passa de ficção, não conseguindo discernir que nada do que foi dito significa verdade ou inverdade e não passa de um mero eco de coisa nenhuma.
- Não há só quem nada diga, afirmando dizer tudo, também os há que nada dizem por nada saberem dizer, mas encostam-se a quem diga por eles e passam, assim, despercebidos no meio da manada que nada diz, nada tem para dizer, nunca disse nada e, quando descobre que pode dizer alguma coisa, fica calada, em estado de total mutismo e de bovina solidariedade clânica.
- Finalmente, depois de me ouvires, dizendo tudo sem nada dizer, ainda achas que me ouviste dizer alguma coisa?!
- Oh, se ouvi! Disseste muita coisa nas entrelinhas desta conversa silenciosa.    
- Ainda bem, então, que entendeste o meu recado. Julguei ter falado, sem nada ter dito, mas, afinal, sempre sobrou alguma coisa deste diálogo, singularmente, surreal: a convicção de que se pode dizer tudo sem dizer nada. 

Moral da história:  
“Sortudos, aqueles que, mesmo calados, encontram sempre alguém que os saiba ouvir.”
    
Calendas Filosóficas, 2000
João Frada


segunda-feira, 8 de junho de 2015

UM REINO COM FUTURO, SEM SOBRESSALTOS E INCERTEZAS

Um Reino com Futuro, sem Sobressaltos e Incertezas

Feliz o reino que, em vez de um, tem dois príncipes, um Primeiro e um Segundo, a governá-lo com tanto empenho e dedicação, os quais, aparentemente, diferentes em termos de personalidade e de feitio, se têm esforçado para, em nome de uma suposta sintonia ideológico-política, poderem governar, sorte a deles, um bando de súbditos, na sua maioria, pacíficos, amorfos e incapazes de fazerem ondas.  
Um deles, mais conhecido como “Príncipe das Feiras”, depois do outro alertar que a Segurança Social do reino está em risco e de perspectivar que, uma vez mais, irão ser os pensionistas e reformados a terem de contribuir com novos cortes nas suas reformas e pensões para o equilíbrio e continuidade deste organismo, cada vez mais “inseguro” (dever-se-ia ponderar se não seria melhor designá-lo de Insegurança Social), aparece-nos a afirmar, com a maior convicção, que o “futuro” do reino, nas mãos da coligação, vai ser um mar de rosas, “sem sobressaltos e incertezas”.
O “Primeiro” não consegue perceber que nenhuma Segurança Social se equilibra sem gente a trabalhar e a descontar para o seu garante no presente e no futuro. Os empregos que diz terem sido criados, na sua maior parte, não passam de pseudo-empregos ou de subempregos de curta duração, incluindo cursos de formação e outras artimanhas para ocuparem, com “meia dúzia de horas semanais”, quem não tem trabalho, mesmo em organismos do Estado, e, comicamente, embora mal possibilitem a sobrevivência dos ditos “empregados”, são considerados, em termos estatísticos, como uma amostra evidente de “descida da taxa de desemprego” no país. É óbvio que a descida desta taxa, na opinião do Primeiro príncipe, o que se julga mais inteligente dos dois, não resulta jamais da quebra de procura de emprego nos Centros de Emprego e Formação Profissional. Não. Baixou porque tinha de baixar com a sua, mais do que eficaz, orientação governativa. Nunca se criou tanta oportunidade de trabalho neste reino… de fantasia…, diz ele, comparativamente a outros reinados. Mas, os que têm ou teriam hipótese de serem aceites como empregados, entre os 20 e os 40, na sua maioria, emigraram, ou seja, deixaram de aparecer nos ditos Centros de Emprego; partiram para outras “freguesias” mais certas, mais fiáveis e rentáveis, noutros países. Os que por cá ficaram, com idades que oscilam entre os 40 e os 65 anos, esses, no desemprego e postos a andar quer de empresas quer do próprio Estado, porque são “velhos”, tantas vezes foram bater à porta dos ditos Centros de Emprego e em busca de novas ocupações, que se cansaram e voltaram as costas. Desistiram de visitas a estes “Centros”, Vivem de biscates, de expedientes e desenrascas, pendurados nos pais, também estes, velhos, sem posses e sobrevivendo com míseras reformas, e assim irão continuando na condição de “desempregados crónicos”. Todavia, este pequeno problema não é problema porque está em vias de deixar de existir, assegura o inteligente príncipe: a taxa de desemprego está cada dia mais baixa. Que maravilha! Nunca este reino proporcionou tanto trabalho aos seus súbditos, e os dois príncipes que governam o reino nunca andaram tão felizes. E, ambos, expressam com vigor a sua satisfação: o Primeiro fez questão de apregoar, recentemente, aos sete ventos que este oásis que governam deve ser considerado, por todos, como um reino “rico” e a caminho da prosperidade…só temos, é, de encontrar esse caminho*…,não obstante a contínua sangria de pensões e reformas, não das gorduras de Estado ou das chorudas subvenções de todo o séquito governativo e dos altos cargos do reino, mas da plebe, imprescindível para equilibrar as finanças públicas e, em particular, a dita Insegurança Social.
O Segundo, para não ficar atrás, cuidou também de escolher um slogan compatível com as suas crenças e certezas e afirma, peremptoriamente, que todo o reino deve acreditar na união governativa, da qual faz parte, porque apostar nesse casamento é apostar num “futuro” risonho, feliz, abundante de empregos e bem remunerados, “sem sobressaltos e incertezas”. Que Belos príncipes que nos têm governado até agora e que, nunca se sabe, poderão continuar, nesta quase perfeita união, a defender, com unhas e dentes, tamanha felicidade entre os seus súbditos, traduzida pelo acesso ao bem-estar, ao pleno emprego, à educação, à saúde, à corrida à natalidade, altamente apoiada por toda a nobreza do reino e, finalmente, à merecida e justa reforma, depois de uma vida de descontos. A Segurança Social, com tantos contribuintes e tanto emprego, jamais virá a ficar em risco. Deixará de ser, a atual insegurança social, a única pequena mazela deste reino. Alguém é capaz de afirmar o contrário?! Acredito que não.
O nosso reino, nas mãos destes dois príncipes, só pode mesmo esperar um “futuro” promissor “sem sobressaltos ou incertezas”.   

*”Passos diz que Portugal é considerado um país rico no mundo”

João Frada
Professor Universitário (Ph.D)

Calendas Semânticas, 2000

segunda-feira, 1 de junho de 2015

HINO À LUA CHEIA

Hino à Lua Cheia

A lua, no céu estrelado,
Musa dos meus e teus versos,
Rimas de sonhos perdidos,
Tem dentro dois universos,
Nossos corações unidos.

O céu lindo, enluarado,
Anda cheio até acima
Do nosso amor, não se cansa
De abençoar tanta estima
Com seu manto de esperança.

Calendas Poéticas, 2000

João Frada