Quando sonho em pesquisar
Algures, no impossível,
Um conjunto de palavras
Que transcendam a razão,
Metafísicas, sagradas,
Pra retratar a paixão,
Não passo do limiar
De um alfabeto sofrível,
De letras mal soletradas
Desprovidas de emoção.
Todos os dias eu esforço
Os neurónios ao limite.
Às vezes, quase desmaio,
Sem ganza nem transcendência,
Mas nada sai deste ensaio,
Usadas todas as manhas,
E tamanha persistência.
Consumindo a paciência
Buscando palavras estranhas.
Leio mágica e ciência,
Alfarrábios com aranhas,
Sem tais vocábulos achar.
Ponderando então com calma,
Chego a esta conclusão:
Palavras, assim, com alma,
Só dentro do coração.
Calendas Poéticas 2000
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