Sentido e desiludido, há uns meses atrás, um fulano bem conhecido de um município nortenho, queixava-se que, depois de se ter esforçado brutalmente por continuar na vida política ativa, onde durante anos, por amor à causa pública, se desgastou, física, psicológica e, mais grave ainda, financeiramente, não viu outra solução senão voltar as costas ao país e virar-se para o estrangeiro, para recomeçar um novo ciclo e, de uma vez por todas, cuidar da sua conta bancária, ultrapassar as dificuldades económicas que a vida política lhe acarretou e não participar mais na “saga de delapidação patrimonial” que durante anos, ingenuamente, alimentou. Percebeu, finalmente, que o país não lhe merecia tamanhos sacrifícios, como aqueles a que se sujeitou, enquanto autarca, em prol da comunidade que serviu e da nação.
Com formação médica de base, em vez de exercer medicina, aturar doentes e exigências do Sistema Nacional de Saúde, cada vez mais aborrecido e complicado, e receber um miserável vencimento de cerca de 2 000 euros, muito menos do que um qualquer insignificante Adjunto ou Assessor de Ministro, acabadinho de sair da universidade, julgando ir de encontro ao seu grande sonho, ser político, seguiu há bem mais de uma dúzia de anos, a carreira política. Começou como gestor camarário e confessa, amargurado, perdeu muito, muito dinheiro, para além das inquietações que o cargo lhe trouxe. Segundo auditorias realizadas à sua gestão tão cuidadosa, racional, criteriosa e transparente, deixou dívidas camarárias bem difíceis de esquecer e de sanar. É óbvio que este percalço funcionou na sua vida como um despertador. Acordou, finalmente, do seu sonho lírico, resolvido a dedicar-se a atividades rentáveis e sem tantos incómodos como o exercício da medicina ou da política. Em todo o caso, embora não o reconhecendo publicamente, porque, porventura, nada lhe pesará na consciência nem existem quaisquer fundamentos que o comprovem, enquanto autarca, terá feito jeitos e favores a muita gente e não só abriu portas que lhe continuarão a estar completamente franqueadas, como usufruiu de privilégios, mordomias, subvenções e vencimento (Presidente da Câmara - 40% do PR / € 3.053,00 + € 888,78 de despesas de representação (30% da remuneração base), com os quais, enquanto clínico, jamais poderia ter sonhado.
Porém, ambicioso como é, não consegue esconder a sua desilusão e revolta por lhe terem tirado o tapete vermelho que lhe parou a marcha da continuidade na vida política do país. E brama que servir a causa pública, não como clínico, mas como político, só lhe trouxe aborrecimentos e empobrecimento.
Sente-se um verdadeiro ingénuo, porque afinal começou a malfadada carreira política com tão pouco, apenas com uma casinha herdada da família, coisa que, vendida recentemente, não lhe rendeu mais de 50 mil euros, e acabou com quase nada: vários apartamentos em Lisboa, em Troia (Grândola) e no Porto, um dos quais avaliado em mais de meio milhão de euros, para além de alguns veículos de transporte e de lazer, de duas e quatro rodas, tudo isto, afinal de contas, adquirido com as poupanças do magro vencimento de gestor autárquico correspondente a um rendimento tributável que, no ano de 2012, segundo dados apontados pela fonte que consultámos, não teria ultrapassado os cinquenta e poucos mil euros. No seu entender, o miserável salário a que tinha direito não compensava, minimamente, o tremendo e tenebroso impacto económico e psicológico sofrido durante o seu dedicado serviço à causa pública.
Frustrado, mas, ao mesmo tempo aliviado por ter decisivamente descoberto a sua grande luz estrelar ao fundo do túnel, munido de conhecimentos de gestão bem mais inteligentes e potencialmente profícuos do que aqueles de que fez uso enquanto serviu o município que deixou atolado em dívidas, este deserdado da sorte e da fortuna, está neste momento decidido a cuidar do seu património, até agora tão prejudicado pelas suas apostas profissionais, em particular, pelo exercício da política que abraçou com tanta ternura, altruísmo, estoicismo e, pior ainda, com tão poucos proventos e recompensas.
Convidado na hora certa para assumir o alto cargo de Chairman numa importante empresa vocacionada em gestão, consultoria e promoção de investimentos nas áreas do turismo comércio e indústria, em mercados internacionais africanos, aceitou sem hesitar esse cargo e livrou-se definitivamente do seu grande pesadelo: a política caseira, responsável por todos os seus traumas e desilusões.
Moral da história: quem abraça a vida política corre o risco de ser um pobre incompreendido ou, mais grave ainda, um incompreendido pobre.
Com formação médica de base, em vez de exercer medicina, aturar doentes e exigências do Sistema Nacional de Saúde, cada vez mais aborrecido e complicado, e receber um miserável vencimento de cerca de 2 000 euros, muito menos do que um qualquer insignificante Adjunto ou Assessor de Ministro, acabadinho de sair da universidade, julgando ir de encontro ao seu grande sonho, ser político, seguiu há bem mais de uma dúzia de anos, a carreira política. Começou como gestor camarário e confessa, amargurado, perdeu muito, muito dinheiro, para além das inquietações que o cargo lhe trouxe. Segundo auditorias realizadas à sua gestão tão cuidadosa, racional, criteriosa e transparente, deixou dívidas camarárias bem difíceis de esquecer e de sanar. É óbvio que este percalço funcionou na sua vida como um despertador. Acordou, finalmente, do seu sonho lírico, resolvido a dedicar-se a atividades rentáveis e sem tantos incómodos como o exercício da medicina ou da política. Em todo o caso, embora não o reconhecendo publicamente, porque, porventura, nada lhe pesará na consciência nem existem quaisquer fundamentos que o comprovem, enquanto autarca, terá feito jeitos e favores a muita gente e não só abriu portas que lhe continuarão a estar completamente franqueadas, como usufruiu de privilégios, mordomias, subvenções e vencimento (Presidente da Câmara - 40% do PR / € 3.053,00 + € 888,78 de despesas de representação (30% da remuneração base), com os quais, enquanto clínico, jamais poderia ter sonhado.
Porém, ambicioso como é, não consegue esconder a sua desilusão e revolta por lhe terem tirado o tapete vermelho que lhe parou a marcha da continuidade na vida política do país. E brama que servir a causa pública, não como clínico, mas como político, só lhe trouxe aborrecimentos e empobrecimento.
Sente-se um verdadeiro ingénuo, porque afinal começou a malfadada carreira política com tão pouco, apenas com uma casinha herdada da família, coisa que, vendida recentemente, não lhe rendeu mais de 50 mil euros, e acabou com quase nada: vários apartamentos em Lisboa, em Troia (Grândola) e no Porto, um dos quais avaliado em mais de meio milhão de euros, para além de alguns veículos de transporte e de lazer, de duas e quatro rodas, tudo isto, afinal de contas, adquirido com as poupanças do magro vencimento de gestor autárquico correspondente a um rendimento tributável que, no ano de 2012, segundo dados apontados pela fonte que consultámos, não teria ultrapassado os cinquenta e poucos mil euros. No seu entender, o miserável salário a que tinha direito não compensava, minimamente, o tremendo e tenebroso impacto económico e psicológico sofrido durante o seu dedicado serviço à causa pública.
Frustrado, mas, ao mesmo tempo aliviado por ter decisivamente descoberto a sua grande luz estrelar ao fundo do túnel, munido de conhecimentos de gestão bem mais inteligentes e potencialmente profícuos do que aqueles de que fez uso enquanto serviu o município que deixou atolado em dívidas, este deserdado da sorte e da fortuna, está neste momento decidido a cuidar do seu património, até agora tão prejudicado pelas suas apostas profissionais, em particular, pelo exercício da política que abraçou com tanta ternura, altruísmo, estoicismo e, pior ainda, com tão poucos proventos e recompensas.
Convidado na hora certa para assumir o alto cargo de Chairman numa importante empresa vocacionada em gestão, consultoria e promoção de investimentos nas áreas do turismo comércio e indústria, em mercados internacionais africanos, aceitou sem hesitar esse cargo e livrou-se definitivamente do seu grande pesadelo: a política caseira, responsável por todos os seus traumas e desilusões.
Moral da história: quem abraça a vida política corre o risco de ser um pobre incompreendido ou, mais grave ainda, um incompreendido pobre.
João Frada
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