Na verdade, a menos que, subjacentes ao “sentido pedido de desculpas de Rui Machete”, existam mais algumas razões de índole pessoal ou política, eventualmente, encomendadas pelo próprio PM, visando melhorar o clima relacional entre os dois países, tão sujeito estes últimos tempos a “fortes ventanias”, clivagens e fricções exacerbadas pela comunicação social de ambos os lados, em torno dos processos judiciais em causa, envolvendo altas figuras do governo de Angola, apaziguamento a que nós aludimos e que o próprio PM se referiu ontem, entendemos que as gaffes do senhor ministro dos Negócios Estrangeiros não passam disso mesmo: gaffes, não no sentido literal do termo, mas de excessos de boa vontade político-diplomática, ainda que correndo o risco de “perder a face”, pondo-se de cócoras ou de joelhos, como quiserem vê-lo, de modo a assegurar que os milhares largos de portugueses residentes em Angola ali possam continuar a trabalhar sem grandes complicações…porque são brancos e vistos, por muitos, como herdeiros de colonialistas e, nestas coisas, mal vale prevenir…, porque dão um grande jeito às nossas finanças, tão falidas, as contínuas divisas e os imensos capitais que de lá vêm, estes últimos agora mais contidamente, porque se levantou a suspeição de que Portugal era um destino preferencial para branqueamento de capitais, porque somos países irmãos e não faz sentido estarmos desavindos, apenas porque vários figurões angolanos estão a contas com a justiça, neste caso com a PGR.
“A senhora Procuradora-Geral deu informações genéricas, como aliás foram pedidas, que nos asseguraram que as coisas não tinham nenhum grau de gravidade”, afirmou Rui Machete.
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A PGR apressa-se a desmentir tais afirmações, afirmando que se "encontram pendentes no Departamento Central de Investigação e Ação Penal (DCIAP) vários processos em que são intervenientes cidadãos angolanos, quer na qualidade de suspeitos, quer na qualidade de queixosos". O mesmo comunicado sublinha que estes processos se encontram em "segredo de justiça", sendo o seu conteúdo acessível "só aos intervenientes processuais a quem a lei confere tal direito.
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É neste sentido que a PGR deixa a garantia de que Joana Marques Vidal – ao contrário do que afirmou o ministro dos Negócios Estrangeiros Rui Machete na entrevista à Rádio Nacional de Angola (RNA) a 18 de Setembro - "nunca proferiu qualquer comentário sobre o conteúdo daqueles processos, nem teceu considerações com ninguém sobre quaisquer processos sujeitos ao regime do segredo de justiça".
“O Ministério dos Negócios Estrangeiros emitiu um esclarecimento: Rui Machete diz que nunca fez perguntas à Procuradoria-Geral da República ou a qualquer instância judicial sobre processos”.
O senhor ministro dos Negócios Estrangeiros, pelos vistos, deu o dito por não dito. Esse, sim, foi o seu último grande deslize. Mais um. Se bem se lembram também nunca tivera ações na Sociedade Lusa de Negócios ligada ao BPN, conforme assumiria em novembro de 2008, e ocultou enquanto pôde este interesse pessoal, sabendo que isso colidia com o cargo que iria assumir, o de ministro dos Negócios Estrangeiros.
Resta saber se continuará a deslizar e por quanto tempo, atendendo ao facto de que não destoa dos demais companheiros de equipa, porque “dar constantemente o dito pelo não dito e deslizar” têm sido as notas mais comuns entre quase todos os membros da atual governação.
João Frada
Professor Universitário
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