De acordo com as declarações publicadas no jornal Público, desta última sexta-feira, dia 5 de setembro, o ex-ministro da Economia, Daniel Bessa, atual diretor-geral da Cotec Portugal, não só “é favorável à antecipação do pagamento do empréstimo ao FMI”, como afirma que “dizer que precisamos de investimento estrangeiro é zero, [e] não resolve coisa nenhuma”. Entende, por outro lado, que a “grande área da velhice e da doença” representa um “nicho” que Portugal poderia aproveitar, com grande impacto na nossa economia. “Portugal tem condições para ser um prestador de serviços de complexidade moderada na área da saúde e da doença a tudo o que é Europa e mercado europeu”. Diz ainda que o mar não é recurso (…), é um inerte (…) e defende que para que o mar seja considerado um recurso, é preciso existir capacidade de o usar”.
Na verdade, todos sabemos que a nossa extensíssima faixa marítima atlântica, aliada ao clima privilegiado de que usufruímos todo o ano, só não é nem tem sido aproveitada em termos económicos, porque tem faltado competência, inteligência e sentido de governação aos nossos dirigentes, incluindo, muito provavelmente, a Daniel Bessa, que parece ter acordado só agora e quebrado o silêncio, saindo de uma inércia que, afinal, não toca só o mar.
Há três anos, exatamente, em artigo que demos para publicação ao jornal O Figueirense, em 23.06.2011, dizíamos nós o seguinte, a propósito do mau aproveitamento dessa gigantesca fonte de recursos, que é o nosso mar:
Apostou-se em estádios de futebol e a maioria “está às moscas” todo o ano, mas ponderar em valorizar os nossos recursos, isso, ou é condicionado por quotas europeias, levando à “mumificação” destes setores, ou é relegado, pura e simplesmente, a uma prioridade secundaríssima no contexto das preocupações de governação central e autárquica. Estabelecem-se tantas parcerias público-privadas e algumas têm sido um desastre para as finanças públicas. Todavia, estas “parcerias estratégicas”, se implementadas com o maior sentido de racionalidade, seriedade e ponderação ao serviço de novos projectos viáveis e sustentáveis, poderiam vir a tornar-se rápidos motores de emprego, de desenvolvimento e de riqueza. O tempo urge e as nossas tremendas “obrigações de dívida” não perdoam.
O mar, a todos os níveis, é um dos nossos maiores bens. Desde recursos alimentares, a energia limpa, se o soubermos explorar (e há já tecnologia para o efeito), a lazer, podemos encontrar nesta vertente uma quase inesgotável fonte de receita e de saúde. É espantoso como um País com mais de 800 Km de costa, sem contar com as Ilhas, com sol quase todo o ano e um clima dos mais amenos da Europa, não dispõe de mais de meia dúzia de talassocentros e alguns deles apenas de acesso restrito! Oferecendo talassoterapia (sol, água do mar, areia marinha, algas) todo o ano, boa gastronomia e hotelaria, lazer e saúde, criavam-se empregos, atraíam-se turistas e dinamizava-se, deste modo, um importante setor da nossa economia que, por ora, se mantém praticamente inexplorado. Esta modalidade terapêutica, tal como a termaloterapia, é uma das melhores alternativas para a correção ou cura de patologias osteo-articulares, agudas ou crónicas, e poderia vir também a representar uma aposta inteligente e de grande eficácia no domínio da saúde pública em Portugal. Se é possível estabelecer convénios com centros termais, porque não com talassocentros, caso eles existam e ofereçam as condições convenientes de utilização?! Explorando inteligentemente os nossos recursos e capacidades, estes ou outros que garantam viabilidade e rendibilidade económicas imediatas, talvez então possamos vislumbrar alguma luz ao fundo do túnel.
Ou se fazem investimentos e se gera riqueza familiar através do emprego, ou venham “os milhões” que vierem, não viremos a ter quaisquer hipóteses de sobrevivência económica e financeira. Seremos, pura e simplesmente, engolidos pelo grande capital estrangeiro que, a pouco e pouco, nos atirará para a pobreza generalizada, tomando conta e anexando todos os nossos setores estratégicos e produtivos. Não é com uma contínua e crescente sangria fiscal, altamente lesiva da capacidade de sobrevivência e investimento de famílias e empresas, que a economia portuguesa se conseguirá endireitar. Esta fonte, senhores dirigentes, já tem um lençol freático muito exaurido.
João Frada
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