segunda-feira, 21 de julho de 2014

Afinal quem é o pai da natalidade em Portugal?

Passos Coelho descobriu agora, porventura alertado pelo Senhor Ministro da Saúde, obrigatoriamente mais atento às questões de saúde, morbilidade, natalidade, senilidade e mortalidade, que a demografia portuguesa está “doente” e em vias de extinção acelerada, pondo em risco, como é óbvio, a sua reforma e a de todos os seus pares mais diletos, dentro de poucos anos, se bem que todos eles, seguramente, tenham tido possibilidade, face ao que auferem e forram enquanto governantes, de fazerem umas boas poupanças, ao contrário da maioria dos “portugas”, os quais mal ganham para sobreviverem, quanto mais para pensarem em pecúlios destinados à velhice. Seja como for, o Senhor Primeiro Ministro anunciou que agora, depois de todas as estratégias e medidas draconianas a que sujeitou o país, impondo-lhe uma austeridade sem limites e espoliando-o até à exaustão, é chegado o momento de pensar na natalidade. Falamos de reformas fora da esfera governamental, é evidente, porque aquilo que há muito se aguarda e que deveria contemplar o Estado, não está nem virá a estar tão depressa nos horizontes reformistas de Sua Excelência, o Senhor Primeiro Ministro. De resto, alguns dos projetos de lei que deveriam servir de suporte a essa reestruturação, pondo termo à ganância e acautelando o espírito de agiotagem e o risco de corrupção a nível do poder político, foram chumbados no Parlamento pela maioria parlamentar, a que se juntou o PS: exclusividade dos deputados e período de nojo para governantes, propostas estas apresentadas pelo Bloco de Esquerda e pelo PCP. Ainda que alguns analistas afirmem que a exclusividade sujeitaria o deputado a amarras de disciplina clãnico-partidária e, na sua atual condição, tem mais hipóteses de contrariar tal situação, expressando livremente a sua opinião, entendemos que em qualquer circunstância, desde que não pactue com os seus iguais, pode sempre ser afastado pela cúpula do Partido. Simplesmente, o maior perigo não tem vindo de dentro mas de fora, do mundo das empresas e dos escritórios com quem partilham o seu dia-a-dia, porque não são profissionais em exclusividade, correndo sempre o risco de se tornarem agentes da promiscuidade entre o público e o privado. 
Poupar num lado para aplicar no outro, em projetos, áreas e negócios necessitados e socialmente prioritários, deveria ser esta a preocupação do Governo, mas não nos parece que tenha sido ou venha a ser a sua filosofia de atuação, pelo menos até aqui. 
A capitalização e recapitalização da Banca, sempre protegida pela “almofada do risco sistémico”, tem sido e parece-nos que irá continuar a ser a prova cabal do que afirmamos. Mas, a par destas inteligentes estratégias governativas, o Estado tem também esbanjado milhões de euros em muitos projetos, áreas e negócios onde não devia apostar um cêntimo ou então onde deveria ser mais cauteloso e parcimonioso nas suas aplicações (SWAP, PPP e BPN são os exemplos mais paradigmáticos e vergonhosos dessa insensatez e desrespeito pelos cidadãos) e, por outro lado, em setores nos quais já devia ter investido os seus melhores recursos económicos e humanos, como é o caso do estímulo à natalidade e à fixação de jovens através da criação de emprego e de proteção familiar, sobretudo na área da saúde e da segurança social, nada tem feito… a não ser, claro, na largueza com que atribui rendimentos sociais de inserção a indivíduos que pouco ou nada produzem e jamais virão a contribuir para a riqueza do país, apesar da larga prole que têm a seu encargo, completamente pendurados nestes rendimentos, sem qualquer retorno. 
Todos estão atualmente preocupados com o incentivo à natalidade e com a criação de estratégias conducentes ao aumento dos agregados familiares, e todos tinham na manga, de há muito, estas ideias. Curiosa esta irrupção tão alargada e esclarecida, sobre projetos políticos virados à natalidade, oriunda dos dois Partidos no poder, PSD e CDS, surgidos quase em simultâneo! Fica-se sem saber a quem se deva atribuir o prémio da paternidade, da exclusividade, da originalidade ideológica e conceptual de tamanha descoberta ou criação – o projeto da natalidade portuguesa – se a Passos Coelho, se a Paulo Portas, quando o que precisamos, e de há muito, meus senhores, é de prémios de maternidade. 
O cómico da questão é que todos eles reivindicam a ideia luminosa da natalidade, estupidamente tão apagada pelas políticas levadas a cabo por todos os Governos destas últimas duas a três décadas, nomeadamente pelo colapso do emprego, pelo empobrecimento familiar e pela fuga brutal de jovens que poderiam ser o motor geracional do nosso país e foram fazer filhos para outro lado.
E ainda pretendem saber quem é que deve considerado o pai da natalidade em Portugal! 
Gente medíocre.

João Frada

quarta-feira, 16 de julho de 2014

DESALENTO

Os meus versos são quadrados
Mas, mesmo, sendo redondos
Ecoantes e rimados,
Soariam como bombos.

Que ninguém pense o contrário
Não se trata de modéstia
Meus versos são mostruário
De um coração com moléstia

Esburacados de ideias
Vazios de sentimento
E podres de inspiração

Saídos das minhas veias
A custo, com desalento,
São versos sem cotação.

João Frada, 09.07.2014

quarta-feira, 9 de julho de 2014

O SONHO

Dizem que o sonho corrói
Os elos das incertezas,
Mas também nos alivia
De frustrações e fraquezas,
Como se fora um feitiço,
Um reino de fantasia
Sem ninguém, sem conteúdo,
Que ora nos prende e separa
Que ora nos leva e nos traz
Entre beijos e abraços
Pelos céus… o sonho é tudo,
É bálsamo que não se espera
É expoente de ilusão,
De dor, de céu, de magia
De tanta falsa quimera
Que nos arrasta e nos guia
Entre as chamas da paixão
E os caminhos da utopia.

João Frada
Lisboa, 07.07.14

terça-feira, 8 de julho de 2014

POESIA TRAPEIRA

Eu queria amar toda a gente que me ama,
Bem entendido, amar só por amar,
Não mais do que isso,
Porque amar sempre acaba numa cama
E termina, muitas vezes, num enguiço.

João Frada
Lisboa, 07.07.13

segunda-feira, 7 de julho de 2014

Nicolas Sarkosy: “Junta-te aos bons e serás como eles”

Se pudéssemos aconselhar Nicolas Sarkosy, neste momento, profundamente sentido com o tratamento persecutório a que acaba de ser sujeito no país que o viu nascer, desencadeado, segundo parece, pelos seus adversários políticos, pouco importados com o importante papel que desempenhou enquanto Chefe de Estado, pautado por lealdade, devoção, altruísmo patriótico, sacrifício e grande desgaste psicológico e anímico, dir-lhe-íamos que ponderasse em abandonar a política e fizesse como o seu compatriota, o ator Gérard Depardieu, escolhendo outra cidadania e, porventura, outro lugar para gozar o tão merecido descanso a que tem direito, depois de tantas canseiras e deceções, junto dos amigos, da família e da sua bela esposa. 
Gérard Depardieu, estrela do cinema francês, não concordando com a carga tributária de 75% que o presidente da França, François Hollande, se preparava para aplicar a ricos, subtraindo-lhe naturalmente uma boa parte da sua fortuna, solicitou a Vladimir Putin que lhe concedesse a cidadania russa, que lhe viria a ser dada. Passou a pagar apenas os 13% de imposto cobrado a qualquer cidadão, seja bilionário ou pobre. Livrou-se a tempo do parasitismo do Estado francês. http://www.correiodopovo.com.br/ArteAgenda/?Noticia=482834 
Pudéssemos todos fazer o mesmo…
Mas, voltemos a Sarkosy. Acusado de violação de segredo profissional, corrupção e tráfico de influência ativos, crimes que preveem penas de dez anos de prisão, o ex-Presidente de França acabará, certamente, por se livrar desta alegada teia que, afirma ele, terá sido perpetrada pelos seus inimigos figadais.
É óbvio que esta nódoa no seu currículo, em termos políticos, ainda que venha a ser considerado inocente dos crimes que lhe apontam, aos olhos dos mass media franceses, constituirá sempre um forte senão para os seus futuros projetos, entre eles, a disputa da presidência de França em 2017. A memória do povo é curta mas a oposição não deixará cair no esquecimento esta polémica, e a dúvida, para muitos eleitores, seja qual for o desfecho da justiça, persistirá. 
Se pudéssemos aconselhá-lo e ele nos ouvisse, o que não nos parece possível, já que apenas ouve conselhos de "estrelas" da arquitetura, crente no poder e na influência da mesma na construção da sua imagem http://www.arquitectura.pt/forum/topic/5099-sarkozy-ouve-conselhos-de-estrelas-da-arquitectura/ , dir-lhe-íamos que é tempo de se furtar a “paparaziadas”, intrigas e cabalas, procurando um país e uma sociedade que melhor se ajustem ao seu perfil isento, íntegro e honesto e, sobretudo, mereçam a sua afeição e o seu profundo sentido de homem de Estado, ético e moral. Não lhe aconselharíamos senão Portugal, como é óbvio. Tirando Isaltino de Morais, Vale de Azevedo, Oliveira e Costa, todos eles uns anjos, comparados com o que para aí se vê por esses países africanos afora, e a prova disso é a bondade e o humanismo com que têm sido tratados, apesar de tudo, Portugal é verdadeiramente um oásis, em termos de imoralidades cometidas por políticos ou altos cargos de Estado, traduzidas por crime de corrupção, branqueamento de capitais, tráfico de influências, enriquecimento ilícito ou gestão danosa e fraudulenta do erário público. 
Para quem possa achar que somos otimistas ou demasiado ingénuos, resta-nos fundamentar o que afirmámos recorrendo às dogmáticas certezas da Dra. Cândida de Almeida sobre este assunto. Na sua qualidade de Procuradora-Geral Adjunta, embora defendesse, em 2009, que onde há poder há corrupção, a verdade é que, três anos depois, chega, graças a Deus, a uma brilhante conclusão: “Portugal não é um país corrupto” e (…) existe uma “perceção” exagerada da dimensão deste crime (…), sublinhando, ainda, que o nosso país “é dos poucos Estados europeus onde se investigam grandes negócios do Estado”. (…) Afirma, por fim, que os “nossos políticos não são políticos corruptos, os nossos dirigentes não são dirigentes corruptos” e, a corrupção, se porventura existe ou existiu, é residual, ou seja, não oferece perigo de contágio.http://www.dn.pt/inicio/portugal/interior.aspx?content_id=2747488 
Pudéssemos nós aconselhar Nicolas Sarkosy, aliviando-lhe o estado depressivo e a desilusão política que o consome, e apontar-lhe-íamos a solução que poria fim aos seus complicados problemas: solicitar a cidadania portuguesa. 
Como diz o provérbio: “Junta-te aos bons e serás como eles”.

João Frada

sexta-feira, 4 de julho de 2014

RUMOS

Os rumos das nossas vidas
Nem eu sei onde vão dar
Sei apenas onde passam,
Entre o meu e o teu olhar.

Vejo-te ao longe sozinha
Meu amor, à minha espera,
E eu volto como andorinha
Quando rompe a primavera
 
Sinto-me um homem com sorte
Quando cruzo a escuridão
Correndo às cegas, sem norte,
Atrás do teu coração

Os rumos das nossas vidas
São duas estradas desertas
Onde morrem despedidas
E nascem juras incertas

Que nos fazem meditar
E se alimentam de nós
E nos prendem sem cessar
Aos ecos da nossa voz

Os rumos das nossas vidas
Fingem ser cruzada calma
Mas carregam tantas feridas
No coração e na alma

E quando o vento assobia
Rijo e forte, a caminhada
Estremece numa agonia
E tudo parece nada

Os rumos das nossas vidas
Seguem estrelas apagadas
Que dos céus foram descidas
Por serem luzes veladas

Nesta rota sem destinos
Andamos acorrentados
Somos ambos peregrinos
Em caminhos separados  

Cruzei todo o firmamento
Em sonhos, pude voar,
Dei largas ao pensamento
Em busca do teu olhar.


De tantos rumos, houve um
Que escolhi, virado ao céu
Cruzei-o sem medo algum
Quando soube que era o teu

Era um rumo de andorinha…
Quem sabe onde desagua?
Na tua alma ou na minha,  
Na minha boca ou na tua ?

João Frada
Lisboa,03.07.14

terça-feira, 1 de julho de 2014

Ave de Arribação

Dizes-me adeus a sorrir
Mas teu olhar entristece
Mal disfarça luto e dor.
Sempre sorrindo, a fingir,
Rogas a Deus numa prece
Traz depressa o meu amor.

Não sofras, não tenhas medo,
Que eu, tal qual um passarinho,
Sou ave de arribação,
Mas volto sempre bem cedo
À procura do caminho
Que leva ao teu coração.

João Frada, S/d.