Como? Apenas prorrogando o tempo de liquidação da dívida, por quarenta anos ou mais, e esmolando à Europa, em particular à Alemanha, o abaixamento das taxas de juro, empurrando para a frente, o mais possível, o (a)pagamento do tremendo buraco orçamental escavado por muitos daqueles que estão ou estiveram, direta ou indiretamente, na origem do mesmo buraco e estão agora preocupados com a prossecução deste "manifesto de reestruturação da dívida", esperando que os nossos filhos e netos paguem com suor e desgaste de pele e neurónios aquilo que muitos destes incompetentes, dolosos ou não... resta saber, causaram, sem sofrerem o mínimo de incómodos, nem políticos nem criminais?! É isto que se espera que venha a acontecer?
Só agora algumas destas excelsas cabeças vêm à liça, preocupadas com “a efetivação de um robusto processo de crescimento económico e de emprego num quadro de coesão e de solidariedade nacional”, com a “reestruturação honrada e responsável da dívida no âmbito da União Económica e Monetária a que pertencemos”, com o “alcance desses objetivos, tendo igualmente em atenção a necessidade de prosseguir as melhores práticas de rigorosa gestão orçamental no respeito das normas constitucionais”, com a “extensão de maturidades da dívida para quarenta ou mais anos, com a reestruturação, pelo menos, de dívida acima dos 60% do PIB, ”. (…)
No mesmo manifesto, “Pede-se à Assembleia da República uma data de coisas: um debate democrático alargado sobre as condições gerais a que deve obedecer a eficaz reestruturação da dívida pública”, uma posição firme e coesa que possa fortalecer “a posição negocial do Estado português junto das instâncias europeias”; a aprovação de “uma resolução recomendando ao governo o desenvolvimento de um processo preparatório tendente à reestruturação honrada e responsável da dívida, com os fundamentos constantes do manifesto”. Tudo isto, visando “Preparar a Reestruturação da Dívida para Crescer Sustentadamente” e garantir o desenvolvimento de “um processo parlamentar de audição pública de personalidades relevantes para o objetivo em causa”.
Tudo bem. Não havendo outro remédio, senão pagarmos, contrariamente ao que fez a Alemanha, desfrutando do perdão de dívida, quer após a Primeira Grande Guerra (1914-18) quer após a Segunda Guerra Mundial(1939-45), as estratégias defendidas neste manifesto poderão vir a resultar numa solução para a tremenda crise económica e financeira em que nos encontramos.
Porém, parece-nos que falta qualquer coisa a este manifesto. Onde consta o apuramento de responsabilidades de quem prejudicou, fortemente, as finanças públicas em milhares de milhões de euros, alegadamente, por gestão danosa?! BPN, Swap, PPP, altamente lesivos para o erário público, constituem tábua rasa em todo este processo de reabilitação e reestruturação?!
Como diz o povo: “Quem roubou, roubou, quem achou é seu”?!
As palavras de homens como Medina Carreira não deixam margem para dúvidas: “Uma eventual ação judicial deveria incidir sobre os governantes dos últimos 10 anos.(…) Era selecioná-los, porque houve uma data de mentirosos a governar (…).
Portugal chegou ao estado de abandalhamento completo (…). Por toda a parte se nota que falta dinheiro aqui e ali. Rouba-se aqui. Rouba-se acolá. Nunca ninguém é julgado. Nunca ninguém presta contas. (…) em Portugal tudo é possível em matéria de dinheiro (…) num Estado onde realmente não há rigor, não há seriedade, não há verdade".
Nota do articulista:
São mesmo transcrições de entrevista dada por Medina Carreira… não se trata de patranha do primeiro de abril!
João Frada
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