sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

PORTAL DOS CIBERNAUTAS

Aqui nos vemos e ouvimos
Nesta janela de encantos
Que se abriu entre nós dois
Como um portal de paixão.
E enquanto os olhos se veem
No momento do adeus
E as mãos enviam acenos
Nossas bocas trocam beijos.
E eu sinto sempre, depois,
Quando chega a solidão
E as saudades me consomem
 Teus lábios dentro dos meus.

João Frada

quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

A CEIA DE NATAL

De um pirilampo fiz uma lua-cheia,
Do pecado, a esperança renascida.
Fiz um presépio com três grãos de areia
Que foi cenário e palco de uma vida.

Da minha fé fiz manto guarnecido
Com retalhos de lã cortada a sesgo
E de um madeiro tosco e carcomido
Fiz um berço de palha e musgo seco.

Ali iria romper a alvorada
Tão límpida e serena, como um sino
Anunciando ao mundo ser chegada
A hora de nascer do Deus-Menino

Marcado pela pobreza, mal chorara
Jesus bebeu no seio de Maria
Um fio de leite, apenas, que brotara
Das migalhas que a Virgem não comia

De pétalas de flor escorri sumo
Macio e leve; do pólen, a geleia;
De uma gota de chuva, espremi néctar
Que lhe dei a beber durante a ceia.

João Frada, Olhos nos Olhos da Alma, Edições CLINFONTUR

terça-feira, 3 de dezembro de 2013

Provas de Avaliação de Professores, Carlos Alberto Amorim e Política Ferroviária


"PSD saúda o acordo alcançado na Educação

O PSD elogiou hoje a solução encontrada para as avaliações de professores, como um exemplo do que é necessário na política portuguesa. Carlos Abreu Amorim sublinhou o papel desempenhado pelo provedor de Justiça, no acordo alcançado...” 
A propósito da cedência do ministro Nuno Crato, confrontado com a pressão de Mário Nogueira, secretário-geral da FENPROF, Carlos Alberto Amorim, fazendo uso da sua “sempre tão cuidadosa e eloquente retórica”, elogiou, e muito bem, a forma como decorreram as negociações e frisou que “essa ideia de recuos e avanços, o grupo parlamentar do PSD, [do qual faz parte], não tem essa perspetiva ferroviária da política portuguesa. (…) As políticas iniciais não têm que se manter inalteráveis.” 
As suas frases pomposas, é certo, mas também algo confusas, parecem-nos ambíguas na forma e no conteúdo. Na verdade, há políticas que não mudam mesmo, sobretudo, aquelas que persistem em massacrar a população, retirando-lhes todos os privilégios adquiridos ou pondo em causa o que é de mais elementar em termos de sobrevivência económica e financeira. Quando à inalterabilidade das “políticas iniciais”, nunca uma afirmação foi tão verdadeira e inquestionável. Carlos Amorim, tal como outros que têm passado pelo Governo, soube muito bem definir o seu pensamento. Podemos  depreender que, na governação, venha quem vier, e a prova está aí à nossa volta, nada recua para melhor, tudo avança para pior. As tais políticas iniciais apenas se somam e continuam umas às outras.  
Quanto à referida postura de avanços e recuos, que Carlos Amorim caracteriza como “política ferroviária”, e supomos que entende tais movimentos, decisões e afirmações, sempre sobre carris, talvez tenhamos de lembrar-lhe de que tal política, que seguiu noutras circunstâncias, não o abona(ra)m nada em termos pessoais, governativos ou profissionais. Poderia ter sido mais sensato e cauteloso, evitando tantos percalços e manobras desajeitadas.  
Num episódio ainda recente em que se envolveu, Carlos Alberto Amorim apelidou os Benfiquistas de “Magrebinos” (Carlos Abreu Amorim, vice-presidente da bancada do PSD, escreveu no Twitter: "Magrebinos: curvem-se perante a glória do Dragão) e, depois, teve de se retratar, (Amorim assume que foi infeliz, 21-05-2013). Aqui está consolidado, de uma forma magistral, o dito recuo da “política inicial”. E ainda bem, neste caso.   
Tristes deslizes de política ferroviária! Aguardemos pelas próximas movimentações descarriladas. 

Professor Universitário
João Frada

domingo, 1 de dezembro de 2013

Crónica de Ficção - A Prova de Avaliação do Sr. Ministro da Educação

O Ministério da Educação, pela primeira vez, merece o nosso aplauso. 
E porquê?! 
Porque o Senhor Ministro, digníssimo representante máximo deste ministério, em nome da transparência e da solidariedade académica, não só faz questão de exigir exames rigorosos a todos os docentes, como, para evitar que lhe apontem o dedo, ele, que também é docente, temporariamente fora do ensino por ter abraçado a vida política, neste caso, a difícil gestão da educação no país, fez saber através de todos os canais de comunicação social que está, como todos os seus colegas, disponível para ser avaliado, não apenas como governante mas como docente universitário. Aguarda que lhe assegurem uma prova de avaliação das suas competências e um júri justos e que lhe deem tempo disponível para se preparar para tal demonstração. Cremos que, com tantos professores do quadro a voluntariarem-se para corrigir este tipo de provas, não faltarão recursos disponíveis para julgar o Senhor Ministro. Ou, perante tamanha formação e eloquência, por falta de júri qualificado, lhe terá de ser atribuída a qualificação automática de “excelente”?!
A necessidade que o senhor Ministro defende de reforçar a formação dos futuros professores nas áreas científicas que vão lecionar e de realizar a avaliação de conhecimentos e capacidades, obrigatória para todos os docentes sem vínculo ou com uma interrupção prolongada no ensino (avaliação em tudo idêntica à prova de aptidão pedagógica e capacidade científica, comum em muitas instituições de ensino superior), levam-no, pois, por questões de coerência, a sujeitar-se ao mesmo exame. Aplaudimos a sua coragem. Outra coisa não seria de esperar de um homem tão decidido, tão coerente e tão determinado.
Convicto de que este exemplo pessoal não só poderá vir a redimir alguns dos seus erros ou exageros, como quiserem chamar-lhe, e, simultaneamente, acalmará os seus críticos mais ferrenhos e radicais, o Senhor Ministro apenas espera que os moldes de avaliação e as questões que lhe venham a estar destinados sejam objetivas e não verdadeiras “ratoeiras”, não venham a ser divulgados antes do tempo, pondo em dúvida a transparência do próprio Ministério e não contemplem assuntos ou temas que, de há muito, por falta de tempo e de predisposição para revisões de literatura, ocupado como tem andado em alterar toda a legislação que contempla a “formação de professores”, não o obriguem a fazer má figura, tropeçando na língua materna, na matemática ou mesmo numa ou noutra questão mais complexa da sua área pedagógica. Isso seria o pior exemplo que poderia dar a todos os seus colegas pedagogos e, tendo em conta que tantas vezes o feitiço se vira contra o feiticeiro, perdidas as próximas eleições legislativas, como é capaz de acontecer, lá terá de regressar de novo à base, com grandes possibilidades de ter de se sujeitar a outra prova ou, eventualmente, a perder o vínculo ao ensino por provas deficientes e não acreditadas. 
Às vezes o diabo tece-as. Por isso, esperemos que o Senhor Ministro se apure nestas provas a que, tão democraticamente, se pretende sujeitar, em nome da equidade, da transparência, da solidariedade de classe, da coerência e da formação de excelência que defende e exige a todos os docentes. 
Se o Senhor Ministro, também ele, pedagogo contratado, efetivo e vinculado e com experiência profissional mais do que comprovada, faz questão de se aplicar a fundo no cumprimento desta exigência, sujeitando-se voluntariamente a tal avaliação, ninguém deve ser dispensado desta prova. Ponto final.  

João Frada
Professor Universitário